segunda-feira, 29 de setembro de 2008

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

— Apetece-me ficar aqui à espera muito tempo.
— Por algo que desejes ou porque esperar é já qualquer coisa em si mesmo?
— Um pouco pelas duas coisas. Mas o importante é que vou fazê-lo por etapas.
— Etapas finitas?
— Não tendo eu alternativa…
— Concretizando…
— Vou assim, como direi, trocar de objecto de espera sempre que um deles aconteça.
— Qual será então o primeiro?
— A chegada do comboio do lado de lá de onde estamos, o que vai desenhar uma linha da esquerda para a direita e, como uma serpente, desaparecer naquele túnel lá ao fundo.
— E depois?
— Esperarei pela última onda sonora audível e, logo de seguida, que o abandono espumante do mar sobre os pequenos seixos se sobreponha como um padrão nos meus sentidos.
— Nesse momento…
— …estarei pronto para esperar que os meus olhos, não conseguindo lidar com a intensidade laranja do final da tarde, adoptem aquela postura de meio-termo, a seu modo também crepusculares.
— …
— Esperarei então que o melhor e mais libertador dos suspiros aconteça, indolente como um paquiderme.
— E…
— Que a minha memória evoque uma música antiga, daquelas de beira-mar, e que na tua cabeça algo de semelhante às minhas descrições, em especial esta última, se vá desenrolando tão sintonizadamente quanto possível.
— Por te parecer ser algo de bom para mim?
— Não exactamente por isso, mais pelo desejo de que o silêncio seja mais uma ponte do que um muro entre nós.
— Calemo-nos então.
— Esperemos…