segunda-feira, 30 de março de 2015

Murakami vs Jorge Palma

O Jorge Palma diz, sedento e convicto, que o amor dele existe, a galope nos seus trinta mil cavalos, mas o senhor Haruki duvida de tudo o que vê e sente. O seu amor aparece e desaparece num bar em Tóquio ao som de “Star Crossed Lovers” de Duke Ellington, até desaparecer de vez – ou talvez tenha sido o mundo a desaparecer inteiro de dentro da sua etérea Shimamoto. Só as marcas lá ficaram, as de dentro porque as outras não se deixam ver nem ser provadas. Murakami é para se ler com banda sonora e para nos acompanhar depois de acabarmos de ler cada história, deixando-nos a dúvida: não estaremos nós a ser lidos por ele?

segunda-feira, 16 de março de 2015

Ler duas vezes

​Sem saber bem o que fazer ao tempo, quando a vida me obriga a esperar, retorno aos livros que no passado me aqueceram os dias. Às vezes um sobressalto da memória faz-me sentir em casa, outras o desconhecido assombra-me ou ilumina-me. Neste processo, um desses homens da palavra, fez-me perceber porque o fazia: Kundera falando da velocidade e da lentidão. Porque é importante andar devagar quando o tempo nos comprime os dias, nem que seja fingindo, os passos sucedendo-se pausados e o coração em atropelo, a empurrar o espírito que o rasteira, mas os passos ainda assim sucedem-se pausados. Reler é às vezes a única forma das palavras entrarem cérebro dentro e se espalharem pelo corpo.